O ICP voltou e as memórias também: contos de uma ex-cast member
O famigerado ICP (International College Program) da Disney, que já marca presença aqui no Qualquer Latitude, finalmente teve seu grande retorno depois de longos dois anos e meio de hiato por conta da pandemia. Disney Adults do Brasil inteiro já começaram a se preparar ou para fazer ou para acompanhar o processo seletivo 2022/2023 agora que o ICP voltou.
Se este é o primeiro post que você está lendo sobre trabalho na Disney talvez post “Como falamos na Disney” te ajude a entender algumas expressões que aprendemos durante o trabalho por lá!
Aliás, se você não sabe o que é um Disney Adult e decide jogar esse termo no Google, os resultados lhe pintam um perfil um tanto peculiar e bastante caricato. Excessivamente animados, irritantemente tagarelas e ultimamente sem noção do ridículo – tudo isso, claro, ligado ao império do entretenimento que a Disney representa.
Não estou aqui para dizer que esse perfil não compreende ninguém, ou que seguir uma vida devotada a uma empresa é saudável. Meu objetivo é apenas compartilhar minha experiência (limitada, com certeza, mas ainda sim especial para mim) enquanto uma Disney Adult, digamos, comedida. Mais do que isso, compartilhar o que o programa de work and travel da Disney me trouxe para além dos parques com filas quilométricas e das mercadorias que custam nossos rins (os dois, e em dólar).
Ohana quer dizer família
Eu acredito que poucas coisas na vida valham tanto quanto a família; para mim, amigos são como uma segunda família, a que a gente escolhe. No início do meu processo seletivo, em 2019, meu maior medo era não conseguir me aproximar de ninguém, de ficar acuada no cantinho só assistindo aos outros terem a experiência de suas vidas.
Felizmente, esse medo não durou nem até a segunda entrevista. Logo depois da primeira, sem nem saber quem tinha sido aprovado e quem não tinha, encontrei minha tribo do ICP. Cada um no seu canto do país, passamos meses conversando só pelo grupo do WhatsApp, acompanhando o processo um do outro e torcendo para que todos fôssemos aprovados – o que parecia quase impossível, porque éramos 16, mas aconteceu! Teve uma apenas que ficou de fora, mas por uma boa causa: recusou a vaga para ir fazer mestrado na Alemanha (quando a mulher é chique, ela é chique).
Eu e meus amigos na Graduation
Nada se comparou a sensação de encontrar essas pessoas em carne e osso, quem dirá fazer isso em um lugar mágico como o Walt Disney World. A gente chorou, riu, se divertiu, trabalhou e chorou mais um pouco, tudo juntos.
E a melhor parte é que depois do fim do programa, mesmo durante a incerteza louca da pandemia, grande parte do grupo ficou intacta. Uns aqui e ali se afastaram um pouco, mas os que ficaram ocupam residência permanente no meu coração e na minha vida – e, diferentemente da mercadoria da Disney, eles ficam de graça.
42, Wallaby Way, Disney
Os Estados Unidos podem parecer bem próximos da gente de vez em quando. No noticiário, nos cinemas, nos livros, no YouTube… Nessa mídia globalizada, às vezes parece que o globo é só a América do Norte.
Mas não se engane, jovem Padawan! Viajar para qualquer lugar é uma aventura, ainda mais para fora do país. Orlando pode até ser o pedacinho do Brasil nos Estados Unidos, mas cruzar o continente americano e cair numa cidade cheia de turistas que não falam um pingo de português não é tão fácil. Ter que trabalhar com esses turistas, dar orientações e atender demandas, então…
O pessoal acaba se envolvendo tanto no desafio e na empolgação que comete algumas loucuras. Exemplo: como eu trabalhava alguns closing shifts no Disney Springs (ou seja, fechava as lojas onde eu era Merchan), ficava até 00h, 00h30 trabalhando. Um dia, peguei um shift extra no Magic Kingdom, para abrir a Emporium, e tive que levantar às 4h para estar lá antes das 6h. Dois dias antes, tinha feito outro shift extra, no Hollywood Studios, que foi estendido e eu acabei trabalhando por quase nove horas seguidas.
Tudo no ICP é uma aventura, e quem já foi Cast Member costuma brincar que lá tudo fica dez vezes mais intenso. Não só o trabalho, mas as festas, as visitas aos parques entre um shift e outro, o drinking around the world, as viagens de grace period…
Portanto, aqui vai uma dica: quer descansar, descansa em real e não em dólar! O programa vai sim exaurir muito da sua energia, mas é por um período curto, então aproveite todos os momentos que puder. Claro, nada de exagerar e comprometer sua saúde – até porque assim você perderia muitos desses momentos incríveis.
Four Keys para a vida toda
Agora sim, vamos falar do trabalho em si. Todo mundo já sabe dos prós e contras de decidir se enfiar no buraco negro chamado ICP. E, se você escolheu se enfiar, precisa aceitar todos os contras: não, a escolha da sua work location não é garantida; sim, você tem que arcar com todos os custos de viagem e hospedagem, antes e durante o seu programa; sim, você vai precisar obedecer o Disney look o tempo todo (um pró pra contrabalancear esse contra: recentemente, eles flexibilizaram um pouco essas regras).
Porém, superados esses obstáculos (uns bem mais fáceis de superar que outros, sabemos), participar do ICP pode ser uma experiência muito engrandecedora, tanto profissional quanto pessoalmente. Quando eu fui Cast Member, minha única outra experiência profissional tinha sido um estágio em Assessoria de Comunicação em um centro acadêmico. Ou seja, nada comparado a passar horas de pé lidando com todo tipo de guest e num ambiente completamente novo.
A Disney tem um jeito muito específico de trabalho nos seus parques. Se você está trabalhando, está on stage, ou ‘em cena’, o que significa que precisa assumir e interpretar um papel. Se sair desse papel, estraga a magia. Tudo isso pode parecer muito bobinho, mas é na verdade uma jogada inteligentíssima para criar uma experiência única, que o guest não encontra em outros parques de diversão.
Tá, mas o que isso significa pra você? Significa que a sua disciplina, sua atenção aos detalhes e sua criatividade vão precisar estar afiadas para que você faça um bom trabalho. E essas habilidades não se perdem quando o programa acaba; as Four Keys, tão marteladas na nossa cabeça durante o Traditions e o treinamento, acabam te treinando para diversas outras situações profissionais. Sem contar que poucas coisas se comparam a receber uma Key pelo seu trabalho, principalmente vinda de guest.
Por isso, vai aqui outra dica: na hora de adicionar o ICP no seu currículo, destaque bem essas habilidades! Elas podem te levar longe.
Enfim, o fim. Sabe aquele perfil de Disney Adult que eu pintei lá no começo? Pois bem. O melhor jeito de aproveitar o ICP ao máximo é abraçando seu lado um pouco fanático. (Nada de maluquices! Mas…) Se deixe levar, se permita ficar empolgado, não tenha medo de parecer bobo. Trabalhar na Disney significa que você pode fazer parte da mágica que te fez se apaixonar por esse mundo.
Então, antes de qualquer coisa, aproveite!
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