contexto da invasão russa na Ucrânia

Entendendo melhor o contexto da invasão russa na Ucrânia

Você quer entender um pouco melhor o contexto da invasão russa na Ucrânia recentemente? Como sou formada em Relações Internacionais e a equipe do Qualquer Latitude tem uma grande preocupação com questões humanitárias, iremos contar para você de uma forma sucinta quais são as motivações russas para a invasão da Ucrânia e o porquê de a Ucrânia ter uma resistência tão grande à invasão.

Mas afinal porque a Russia invadiu a Ucrânia agora?

Estamos passando por uma mudança da ordem mundial e de paradigmas. Isso significa que as dinâmicas de poder dos países estão mudando e que a balança não está mais no equilíbrio que possuía antes. É importante que nós lembremos que o mundo em si não é algo estático, e é esperado que essas ordens mundiais e dinâmicas de poder mudem com o passar do tempo. Infelizmente, muitas dessas mudanças ocorrem juntamente a guerras – e é o que estamos acompanhando hoje com a situação na Ucrânia.

Histórico da região

O povo eslavo que habita o Leste da Europa e a parte europeia da Rússia tem suas origens séculos atrás com os Vikings. Sim, com os Vikings! Esse povo se espalhou pela Europa e na região onde hoje encontramos a Ucrânia deram origem ao povo eslavo. É muito importante saber que a Ucrânia teve seus momentos de independência, mas que em boa parte de sua história foi dominada por outros – desde os Mongóis até por Moscou. O Império Russo conquistou grandes territórios que hoje iriam até o Mar Báltico e Finlândia, além de vários territórios na Ásia.

Com a Revolução Russa de 1917, o Império Czarista (Czar era o título dos imperadores) viu seu fim e veio o período socialista com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (conhecida como URSS). Durante a URSS, Moscou controlou toda a região do Leste Europeu, uma vez que o centro do Partido Socialista e dessa União ficava em Moscou. A Ucrânia fez parte disso assim como os países fronteiriços do Leste Europeu e da Ásia.

Durante esse período do século passado que foi desde o final da Segunda Guerra Mundial até o desmantelamento da URSS no final da década de 1980 e início dos anos 1990, tivemos uma ordem mundial bipolar ditada pelos Estados Unidos da América e pela URSS no outro lado. Essas duas nações competiam entre si para ter mais poder e influência. E essa influência atingiu as mais diversas esferas: desde guerras por procuração (nas quais nenhum país participava diretamente, mas apoiava diferentes lados da guerra) até a Corrida Espacial e produções cinematográficas.

O que é a OTAN?

Durante esse período, existiram dois blocos correspondentes a cada lado da Guerra Fria: do lado dos EUA foi criada a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e do lado soviético o Pacto de Varsóvia. A OTAN é uma aliança militar, na qual os países participantes se comprometem a defender uns aos outros no caso de uma invasão ao território de um dos membros (isso consta no Artigo 5º do Tratado).

Porém, quando a Guerra Fria acabou e a União Soviética se desmanchou, a rivalidade entre os norte-americanos e os russos continuou, com ambos os países sendo atores fortes no cenário internacional e buscando por aumentar seu poder e influência. O mundo passou a não ter mais uma ordem bipolar, mas sim uma ordem multipolar na qual os principais atores não eram mais apenas Rússia e EUA.

Entretanto ainda assim a Rússia continuou tendo receio e medo de uma maior aproximação da OTAN e também da União Europeia em relação aos seus países vizinhos e ex-membros da União Soviética, região considerada como esfera de influência russa. É por isso que a partir da independência das Repúblicas da URSS, como Ucrânia, a Rússia passou a temer uma perda de poder e também uma aproximação maior dos países Ocidentais.

Os países da Ex-União Soviética sofreram muito com as limitações e sanções da época socialista e são, por esse motivo, nações mais pobres que as da Europa Ocidental. É daí que surge a vontade de essas nações independentes se juntarem à OTAN e à União Europeia: uma aproximação dessas com o Ocidente não apenas traz melhorias econômicas e de infraestrutura, mas também traz uma garantia de estabilidade política e democrática. Dado o trauma passado da opressão e pobreza enfrentada pelas nações que antes eram socialistas, entendemos o porquê de quererem tanto fazer parte do mundo Ocidental.

Entenda o contexto da invasão russa na Ucrânia em 2022

Partindo para a situação atual de invasão da Ucrânia pela Rússia, vemos justamente esse receio da Rússia da entrada da Ucrânia nesses blocos. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky foi eleito como um ato de revolta da população cansada dos líderes pró-Rússia que não tinham a intenção de entrar na UE e OTAN. Tanto que o atual presidente alterou a constituição ucraniana para determinar como objetivos a entrada nessas Instituições. A Rússia passou a ser mais incisiva em relação a Ucrânia nos últimos anos dado esse ânimo político ucraniano e flertes com o Ocidente. O país russo vê como uma ameaça o fato de o Pacto de Varsóvia ter se encerrado com o desmantelamento da União Soviética, mas a OTAN existir ainda hoje.

Como resultado disso, em 2014 presenciamos a invasão da região da Península da Crimeia, território que já fez parte do território russo em outros momentos na História. Hoje em dia nós vemos a retomada russa do desejo de recuperar o território que possuía nos momentos de Império Russo e URSS. Para a Rússia é inadmissível perder a Ucrânia para os países ocidentais, uma vez que como mencionei aqui antes, a origem da Rússia está na Ucrânia. Os dois países possuem de fato muitas semelhanças culturais e étnicas. Parte significativa dos ucranianos falam russo ou possuem essa língua como sua primeira língua. É como comparar de certa forma os canadenses aos norte-americanos, e é isso que o próprio presidente Russo Vladimir Putin disse. Parafraseando ele, a maior catástrofe do século XX teria sido o desmantelamento da União Soviética…

Não vemos uma guerra por território no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso que presenciamos um medo e uma tensão muito grande por parte dos europeus em relação ao incidente na Ucrânia. Infelizmente, em toda guerra temos diferentes narrativas e perspectivas. O que sabemos com certeza é que quem sofre sempre é o povo. E não nos esqueçamos, que apesar de a mídia estar focada nesse impasse no momento, que o mundo enfrenta diversas outras instabilidades, guerras e injustiças.

Agora que você entendeu o contexto da invasão russa na Ucrânia, caso tenha interesse em acompanhar e aprender um pouco mais sobre situações de refúgio, guerras, etc., que confira o site do ACNUR (Alto comissariado das nações unidas para refugiados)ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).

A Isabela tem 26 anos e é formada em Relações Internacionais. Já morou no Canadá e Alemanha, e é amante de café, história, estudar línguas e viajar.