Cardápio à Brasileira por um dia
O Brasil é um país de magnitude continental, formado por povos originários e imigrantes de diferentes locais do mundo. Essa mistura de culturas e hábitos fez com que a culinária brasileira se tornasse um das mais ricas e vastas do mundo. Percorrendo o território brasileiro, há diversos ingredientes em comum, independentemente da região. O que muda é a forma que cada um se insere no cardápio.
Diante de tantas delícias, resolvi conversar com um representante de cada região do país e criar um cardápio para quem quiser passar o dia viajando pela gastronomia do Brasil sem sair de casa.
Café da manhã – Nordeste
Representando o nordeste do Brasil, a tatuadora Wládia Quintela apresentou o cuscuz um café da manhã tipicamente nordestino. Segundo ela, é possível consumir o alimento de diversas formas: “muita gente aqui come com manteiga, ovo, leite, na maioria das vezes acompanhado com café. Eu gosto muito de comer com carne moída ou carne de charque”. Vale lembrar que o cuscuz é muito comum no cardápio do nordestino, consumido como café da manhã, lanche ou refeição.
O cuscuz é originário da culinária africana e foi trazido para o Brasil durante a colonização. No norte da África, o prato era preparado com sêmola de cereais. Aqui no Brasil, a preparação ganhou adaptações, sendo preparado com farinha de milho. Isso fez com que o cuscuz de milho se tornasse uma receita tipicamente brasileira, com diversas formas de preparo em cada região do país.
Entre as diferentes receitas, há o cuscuz paulista, que é tradicionalmente feito com molho de tomate, ovos, azeitona e sardinha; o gaúcho, preparado com legumes e carne de charque e o nordestino, com farinha flocada previamente hidratada e cozida no vapor em uma cuscuzeira.
Ingredientes:
– 2 xícaras de farinha de milho
– Água
– Sal a gosto
Modo de preparo:
– Coloque o cuscuz em um recipiente, junto com o sal e misture
– Em seguida, coloque água aos poucos até a farinha ficar úmida – você pode verificar o ponto da massa apertando a mistura de farinha e água nas mãos, quando ela não estiver mais quebradiça está no ponto.
– Encha a parte de baixo da cuscuzeira com água e coloque o cuscuz por cima do ralo vaporizador
– Tampe a cuscuzeira e leve-a para cozinhar em fogo alto
– Quando começar a sair um vapor pela lateral da tampa, diminua o fogo e deixe o cuscuz cozinhar por mais 10 minutos até que ele fique bem macio
– DICA: sabemos que está pronto quando ele começa a soltar o cheiro de cuscuz pelo vapor
- Se você não tem cuscuzeira, não se preocupe! Também pode fazer o seu cuscuz.
– Você pode substituir a cuscuzeira por uma peneira ou um escorredor de macarrão com furos redondos
– Coloque o escorredor ou a peneira por cima de uma panela funda, com a farinha dentro do escorredor e pronto! A farinha vai se cozinhar no vapor
Almoço- Centro-Oeste
Diretamente do Mato Grosso do Sul, a analista de mídias sociais Mariana Possari e o pai dela, Márcio Zanon, sugeriram o arroz carreteiro como um prato para representar a região Centro-Oeste do país. O prato é com certeza um dos mais conhecidos do Brasil. Foi introduzido nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul por colonos gaúchos do passado.
Para Mariana, o arroz carreteiro é um prato importante para o estado inteiro porque representa a junção da gastronomia da cultura nativa com a da colonização. “É um estado muito recente então todas essas influencias foram eixos estruturantes do estados, a colonização é responsável, junto à população nativa, pelas raízes que temos”.
Ingredientes:
– 1 cebola grande picada
– 2 colheres de sopa de óleo de girassol
– 500g de carne picada
– 1 1/2 xícara de arroz
– Entre 750 ml e 1l água (o suficiente para cobrir o arroz e sobrar um dedo acima)
– 1 cubo de tempero pronto de carne (opcional)
Modo de preparo:
Se o charque for sua carne de preferência e estiver muito salgado, comece colocando a carne em água fria, trocando de água a cada 20 minutos.
– Coloque o óleo na panela e a carne picada em fogo médio
– Quando o óleo com a carne começarem a ferver, pingue um pouco de água nas áreas que a carne grudou no fundo da panela – faça isso até a carne ficar totalmente frita e crocante
– Coloque o alho picado e a cebola. Deixe refogar bem e soltar o fundindo da panela
– Acrescente o arroz lavado e frite bem. Para aumentar o sabor, você pode colocar uma pitada de paparica doce e um pouco de tempero pronto de carne em pó
– Coloque água um pouco acima do nível do arroz e cozinhe por 20 min
– Para finalizar, cheiro verde, vinagrete, ovo frito ou uma mandioca cozida
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Sobremesa – Sudeste
E depois de um almoço tão delicioso diretamente do norte/nordeste do Brasil, vamos para o sudeste, mais precisamente, Minas Gerais, com a estudante de direito Sara Elizabeth. Ela, que também fez faculdade de gastronomia, sugeriu esse lindo doce de banana para representar o sudeste neste cardápio delicioso. Uma receita fácil e que você não vai se arrepender.
Ela escolheu essa receita porque cresceu comendo doces de banana após as refeições em a família e, para ela, é uma confort food. O formato de bala, foi escolhido apenas por uma preferência pessoal de Sara.
Para quem gosta de experimentar um bom doce caseiro, Sara ainda afirmou que, no estado, é muito comum o hábito de comer doces de colher, como doce de abóbora com coco, doce de mamão e doce de banana.
Ingredientes:
– 10 bananas nanicas
– 1 e 1/2 xícara de açúcar
– 1/2 limão
– açúcar cristal a gosto para confeitar
Modo de preparo:
– Adicione em uma panela alta as bananas amassadas, o açúcar e o suco do limão
– Em fogo médio, incorpore todos o ingrediente
– Mexa a mistura constantemente até desgrudar do fundo da panela (como um brigadeiro)
– Quando desgrudar da panela e chegar a um tom amarronzado retire do fogo
– Untar uma forma com óleo e espalhe o doce uniformemente
– Leve para a geladeira até esfriar completamente
– Retire o doce da forma, corte em quadradinhos e passe no açúcar cristal
Lanche da tarde – Sul
Que tal um bolo diferentão para um lanche da tarde bem gostoso? Essa foi a dica do chef Paulo Tardivo, nosso representante da região Sul nascido em Malú, no Paraná. Assim como Sara, o prato escolhido veio da infância. Tardivo foi apresentado a esse bolo pela sua mãe, que sempre fazia essa receita quando ele era pequeno. Hoje, ele diz que faz esse bolo para os seus dois filhos, Sara e Davi, e seu marido, Tiago.
Vencedor da sétima temporada do reality Cozinheiros em Ação, do canal GNT, e apresentador do Food Makers, no Instagram, ele veio para São Paulo em 1998, após o pai passar por um problema de saúde que o afastou da agricultura, principal fonte de renda da família na época. Porém, apesar de estar há tantos anos em São Paulo, ele afirmou que sempre volta para Malú para visitar a família com os filhos, pois faz questão que eles vivenciem sua origem, de que ele tem muito orgulho.
Ingredientes:
Esponja
– 1/2 xícara de trigo
– 1 sachê de fermento biológico
– 1/2 xícara de leite morno
Bolo
– 3 colheres de sopa de açúcar
– 4 colheres de sopa de manteiga derretida
– 2 ovos
– ¼ de xícara de leite
– 1 colher de chá de sal
– 3 xícara de farinha de trigo
– 1 lata de leite condensado cozido
Farofa
– 1 colher de sopa de farinha de trigo
– 50g de coco
– 1/2 colher de sopa de manteiga
– Canela
Calda
– 1/2 xícara de açúcar
– 1/2 xícara de água
Modo de preparo:
– Comece pela esponja: misture o leite morno, fermento e um pouco de farinha
– Deixe descansar por 20 minutos
– Sobre essa esponja coloque os ovos, leite, açúcar, manteiga
– Adicione a farinha aos poucos até a massa ficar homogênea e desgrudar das mãos
– Deixe descansar por 30 minutos
– Passado esse tempo, faça bolinhas e recheie cada uma com uma colher de leite condensado cozido
– Coloque na fôrma, misture o coco, canela, manteiga, farinha (fazendo a farofinha) e polvilhe por cima das bolinhas
– Deixe descansar por 3 minutos
– Antes de ir ao forno, faça uma calda simples de açúcar e água e jogue por cima da massa
– Por fim, leve ao forno preaquecido a 200ºC por 30 minutos
Jantar – Norte
Para terminar o dia, a arquiteta paraense Tainá Chermont Arruda nos apresentou a maniçoba, que é apenas uma das delícias da culinária belenense. Segundo ela, em Belém, a reunião com família e amigos acontece em torno da mesa, “seja nas nossas casas, no bar, na beira do rio, na praça, na Orla de Icoaraci, nos passeios de barco, no passeio no museu ou nos restaurantes”.
Tainá fez a gentileza de me mandar fotos da receita escrita pela avó dela a mão em um livro de receitas que foi deixado especialmente para ela. Apesar de ser uma receita muito apreciada na região norte, à primeira vista não chama muito a atenção – e com a paraense não foi diferente. Ela disse que só aos 10 anos teve coragem de experimentar a maniçoba pela primeira vez, mas, depois disso amou e passou a ser o prato preferido dela!
Vale lembrar que, em geral, cada um faz acréscimos dos ingredientes que quer na maniçoba, por isso a importância de experimentar em mais de um lugar até saber qual cabe melhor no seu paladar. “Em geral, comparamos seus ingredientes com a feijoada, mas ao invés de usar o feijão, usa-se a maniva, que é a folha moída da mandioca – que deve ter um preparo bem próprio para poder eliminar o veneno que a folha possui e tornar adequado para o consumo“, pontuou a arquiteta.
Ingredientes:
– 2 paneiros (cesto de vime usado para guardar e transportar pão) de folhas de mandioca (maniva)
– 2 kg de toucinho branco
– 2 kg de toucinho defumado
– 2 kg de costeleta de porco salgada
– 2 kg de rabo de porco salgado
– 2 kg de língua de porco salgada
– 2 kg de orelha de porco salgada
– 2 kg de lombo de porco salgado
– 4 kg de bucho de boi
– 4 kg de charque
– 1 1/2 de paio
– 1 1/2 de linguiça
– 1 1/2 de chouriço
Modo de preparo:
– Pique as folhas de mandioca (maniva) sem os talos e moa muito bem até resultar em 7 kgs
– Leve a maniva moída para o fogo baixo em uma panela grande e tenha paciência
– Deixe ferver por 72 horas
– Mexa de vez em quando, sempre lembrando de dar pelo menos três boas mexidas por período: manhã, tarde e noite (isso é feito para que as folhas não grudem na panela)
– Sempre coloque água, porque a massa não pode secar
– Quando for dormir, complete a água e deixe o fogão com fogo mais baixo possível
– Passadas as 72h, acrescente o toucinho branco e o defumado (sem cortar)
– Deixe ferver por mais 24h sempre em fogo baixo e completando com água
– Não esqueça de mexer bem pelo menos 3 vezes pela manhã, tarde e noite para não grudar na panela
– Na tarde do quarto dia, ainda com a maniva fervendo, coloque as carnes salgadas de molho para tirar o excesso de sal (ficam de fora apenas o paio, o chouriço, a linguiça e o bucho)
– No quinto dia, corte o bucho de boi do tamanho que pretende servir e escalde para tirar o cheiro
– Juntes as carnes salgadas e o bucho e jogue na panela com a maniva por mais 48 horas
– Depois disso, desligue o fogo quando for dormir
– No sexto dia, corte em rodelas o paio, a linguiça e o chouriço e coloque para ferver
– A cor da maniva, que no início do cozimento é de um verde bem vívido, vai estar em um tom de verde muito escuro, quase preto
– Finalmente, sirva com arroz, farinha d’água de mandioca e pimenta de cheiro (essa dica é da avó da Tainá, você pode utilizar outros complementos para o prato)
Espero que você tenha gostado das receitas do post e que tente fazê-las em casa!
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Gabriel Gameiro
Paranaense de nascimento e paulista de criação, é jornalista e repórter do Qualquer Latitude. Tem 25 anos e, como um bom aquariano, ama viajar e conhecer as novidades que estão acontecendo por aí. Não vive sem Carnaval, ama tocar em bateria de escolas de samba e não sabe andar na rua sem parar para brincar com um cachorro. Começou a escrever em 2015 e nunca mais parou, ama fazer matérias sobre viagens, turismo e apresentar esse mundo para seus leitores. Instagram: gabrielgameirog